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O futebol tratado como artigo de luxo lotou estádios e empolgou os torcedores, o que pode ser para o Brasil o grande legado da Copa do Mundo, trazendo enfim à tona este termo tão perseguido desde a escolha do país como sede do torneio pela segunda vez na história.

No Mundial, a média de público ficou acima dos 50 mil espectadores. Em 2013, todos os jogos realizados em casa pelos clubes que disputaram as quatro divisões do Brasileirão, Copa do Brasil, Taça Libertadores, Copa Sul-Americana, Recopa, Copa do Nordeste e Campeonatos Estaduais registraram média de 4.672 pessoas pagando ingresso.

A Série A do campeonato nacional, que deveria ser a cereja do bolo, levou em média cerca de 12 mil pessoas aos estádios. No Campeonato Alemão, foram mais de 43 mil espectadores em média, no Inglês mais de 36 mil, e no Espanhol, mais de 26 mil.

A diferença fundamental da nossa realidade é que por aqui o futebol não é tratado como atração. Isso fica claro diante dos números.

Fica a pergunta então: O que podemos tirar da Copa? Não é difícil enxergar um caminho. Valorizar o genuíno futebol daquele que se diz o país desta modalidade, fazer com que nossos jogos não sejam meros compromissos dentro de competições, impedir atletas de atuarem sem preparação adequada e entender o torcedor como mais que um mero comprador de ingresso.

O ‘Padrão Fifa’ virou até pauta reivindicatória de manifestações populares, nas quais se cobravam ironicamente hospitais, escolas e saneamento com grau de exigência tão alto como o da entidade. No que se refere aos campeonatos e partidas, não faria mal algum pensar na organização do futebol brasileiro com mais sofisticação.

Os grandes clubes brasileiros jogam excessivamente e deixam de ser atrativos. O torcedor sequer sente saudade de ver o time que torce entrar em campo porque isso acontece três vezes por semana durante quase toda a temporada. Enquanto isso, na Europa, o calendário menos inchado favorece a ocupação dos estádios.

Além disso, na Copa do Mundo o torcedor é bem tratado. Obviamente são públicos diferentes se comparados aos dos campeonatos do Brasil, mas quem paga seja R$ 1.000, R$ 300 ou R$ 10 merece respeito. Inclusive no horário, porque quem vai ao estádio de futebol assistir a uma partida que começa às 22h sabe as dificuldades que o esperam na volta para casa.

Na competição que acaba de terminar, há craques de primeira grandeza, seleções com muita qualidade, o que não se verá quando retornarmos à nossa realidade. O torcedor brasileiro ficará feliz, no entanto, em ver jogadores bem preparados se doando ao máximo, clubes organizados e bons gramados nos estádios.

Fora das quatro linhas, a situação é preocupante quanto à utilização futura da Arena Pantanal, em Cuiabá, da Arena da Amazônia, em Manaus, e do Estádio Nacional Mané Garrincha, em Brasília. As três cidades não têm times nas duas primeiras divisões do Campeonato Brasileiro.

No período que antecedeu o Mundial, as administradoras destes equipamentos esportivos tiveram que convidar times ‘forasteiros’ para poder cumprir o calendário de eventos-testes obrigatórios da Fifa. Vale lembrar que, juntos, estes estádios custaram R$ 2,7 bilhões.

Autoridades do governo federal e também dos poderes públicos locais garantiram que a construção dessas arenas possibilitaria o desenvolvimento do futebol nessas cidades. Não falaram, contudo, como isso aconteceria. Geralmente usam a possibilidade de realizar shows e eventos, além de jogos de futebol, uma estratégia arriscada.

Infelizmente, o mais provável é que Arena Pantanal, Arena da Amazônia e Estádio Nacional Mané Garrincha virem ‘elefantes brancos’, o que não é novidade em Copas, diga-se de passagem.

Os outros legados, lamentavelmente, quase inexistem. É preciso ressaltar que os aeroportos – considerados antes da Copa a principal preocupação -, funcionaram normalmente. Na grande maioria, os torcedores também chegaram bem aos locais dos jogos. Isso, no entanto, não foi o suficiente.

Claro que ninguém imaginava as 12 cidades-sedes sendo absolutamente transformadas por causa da Copa do Mundo. A esperança, contudo, é que elas ficassem melhores do que antes. Corredores viários, novos sistemas de transporte, recuperação de áreas degradadas, muito pouco disso saiu do papel.