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Feira de Santana, 29 de julho de 2006. O Vitória da Conquista, recém fundado, entrava em campo pela primeira vez na história como profissional para enfrentar o Astro-BA, no estádio Joia da Princesa. Na zaga do time conquistense, um então jovem defensor, filho de Vitória da Conquista, vestia a braçadeira de capitão. Era Sílvio da Silva Almeida, na época com 25 anos. Após dez anos, na defesa do Bode, lá está ele. Mais experiente, com menos cabelos, mas a mesma raça e dedicação. Com mais de 330 jogos com a camisa do Alviverde, Sílvio é o Bode em pessoa.

Na véspera da partida de ida da decisão do Campeonato contra o Bahia, em Vitória da Conquista, o técnico Evandro Guimarães fez um rateio de ingressos entre jogadores e membros da comissão técnica. O massagista Thales foi um dos contemplados. No entanto, ao perceber que o goleiro Viáfara ainda não tinha ingresso, o treinador, visivelmente chateado, pediu que Thales entregasse o seu bilhete ao colombiano – que, afastado do local, não acompanhou o cena. Observador do episódio, Sílvio prontamente chamou Guimarães e lhe deu o ingresso para que fosse repassado para o massagista.

– Rapaz… Você é ídolo mesmo, viu? Tem que ser ídolo para fazer um negócio desse! Você é “retado”! E que moral hein, Thales? – disse o treinador.

O simples e humilde ato do capitão retrata bem a postura do zagueiro de 34 anos. No clube desde antes da sua fundação, quando a Conquista era ainda um projeto social com a intenção de formar jogadores, Sílvio viu a equipe passar de escolinha a força do futebol baiano.

– Aqui começou do zero. Era uma escolinha. O presidente tornou profissional, foi agregando. O que se mantém desde o início é organização e profissionalismo. As outras coisas foram agregando, como a torcida que abraçou o time, os empresários ajudando, é isso que vem desenvolvendo e mostrando a força desse time. Eu estou desde o início, em 2006, quando fomos campeões baianos invictos da Segunda Divisão, que foi o primeiro ano profissional do clube. Eu joguei no primeiro jogo da história do clube. Depois em 2008, tivemos um bom time, que encantou, só que o sistema de disputa era diferente, era pontos corridos, e não teve final. Esse ano, completamos dez anos e chegamos na final – disse o zagueiro ao GloboEsporte.com. Leia o retante da matéria

Com 359 jogos pelo Conquista, Sílvio é o atleta que mais vestiu a camisa do Alviverde baiano. Conhecedor da história do clube, ele não tem dúvidas de que se trata do maior momento da história do Bode e um presente para a cidade.
– É um presente para nossa torcida, para a cidade. É o momento mais importante da história do clube. Chegamos à final com mérito. Invictos, com uma das melhores defesas. Então chegamos credenciados ao título, mas claro que isso vai acontecer dentro de campo. Vamos com o mesmo respeito que tivemos durante todo o campeonato. Mas estamos credenciados com muita força – disse.
Para o defensor, a missão conquistense agora é se consolidar como principal clube do interior baiano. O que, segundo ele, pode ser obtido com a conquista do título de campeão baiano diante do Bahia, neste domingo, na Fonte Nova.
– Nosso objetivo é nos afirmamos como uma terceira força do estado e, se a gente conseguir esse título, vamos nos afirmar como essa força e dar sequência – avaliou o zagueiro ao GloboEsporte.com.
Desde que chegou ao Bode em 2006, Sílvio defendeu dois outros clubes, Sampaio Corrêa e Bahia de Feira, mas sempre no segundo semestre, depois de disputar o estadual pelo Bode. Para ele, vestir a camisa do time da sua cidade e ser reconhecido como o rosto do Vitória da Conquista é gratificante.
– Eu tenho prazer enorme de estar há tanto tempo em um clube que preza pelo profissionalismo. Isso quer dizer que eu também sou um bom profissional, porque ninguém fica dez anos em um clube da maneira que eu fiquei. Saindo na rua, o pessoal já vê o Vitória da Conquista. Onde eu saio, o povo já me liga logo ao time. Isso é um prazer enorme, até porque eu sou daqui, meus amigos, minha infância foi aqui, e é um prazer enorme – disse.

– Ser filho daqui tem lado bom do reconhecimento, mas também tem o lado de, quando o time não vai bem, a cobrança é maior. Porque eu fico (na cidade), enquanto as pessoas voltam para suas cidades, e eu tenho que sair na rua e dar a cara para ver e cobrar da melhor maneira, tanto para o bem quanto para o mal – disse.
Se a carreira de dez anos de Sílvio no Bode será consagrada com o título de campeão baiano, só se saberá no próximo domingo. Mas o Sílvio que doa o ingresso a um companheiro que ficou de fora do rateio dos jogadores, ou que, após uma partida, deixa o estádio a pé cumprimentando cada torcedor que lhe estende a mão, é o retrato de um time humilde e que, independente de taças, sabe bem o que é ser campeão.