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O Jacuipense vencia o Vitória por 1×0 dentro do Valfredão quando foi divulgada a notícia de que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) havia suspendido todas as competições que estavam sob sua tutela até segunda ordem. Todo o mundo sabia de que era uma questão de tempo até as federações interromperem os campeonatos estaduais. Mas, naquele momento, Riachão do Jacuípe estava em uma festa.

Depois dali, nenhum jogo aconteceu. O Jacupa ainda está na vice-liderança do Campeonato Baiano, paralisado há dois meses e meio, e aguarda definições para seu futuro. Na segunda-feira (1), começou a vigorar a Medida Provisória (MP) 936 dentro do clube: atletas e comissão técnica tiveram seus contratos de trabalho suspensos. O único representante baiano na Série C do Brasileiro aguentou até onde conseguiu, mas, sem jogos, não há receitas ou patrocínios e permutas pontuais que ajudem a cobrir os quase R$ 100 mil mensais de sua folha salarial.

Presidente do conselho deliberativo do Jacuipense, Felipe Sales afirma que o clube está com a parte financeira equilibrada e não há nenhuma dívida salarial. A adesão à MP é justamente para evitar atrasos e manter a saúde financeira em dia. As principais receitas são oriundas de cota de TV, bilheteria e patrocínios, principalmente o da Salvador Produções, empresa de eventos responsável pelo aporte financeiro que mantém o Leão do Sisal.

“Tivemos R$ 200 mil de aporte da CBF e isso ajudou a manter as despesas em dia de março até maio. Agora, em junho, precisamos suspender os contratos”, disse Felipe Sales.

Na Série D, por sua vez, a Bahia conta com três representantes. Um deles não hesita em declarar que, caso pudesse, não disputaria a competição. O motivo é óbvio: as dificuldades financeiras.

Presidente do Vitória da Conquista, Ederlane Amorim afirma que o prazo para desistência do campeonato era até o último dia 17 de março. Os clubes que desistirem da competição após essa data podem ser enquadrados no Artigo 62 do Regulamento Geral das Competições da CBF.

“Se uma equipe abandonar, for excluída ou eliminada pela Justiça Desportiva de uma competição ficará automaticamente suspensa durante 2 (dois) anos de qualquer outra competição coordenada pela CBF, em qualquer categoria ou divisão”, diz o documento.

Por conta desse artigo, o São Caetano voltou atrás no anúncio de desistência que havia publicado no dia 22 de abril e vai se virar como pode para jogar a Série D. O Conquista seguirá por um caminho semelhante.

“A gente vai participar, mas não há condições de disputar. Perdemos patrocínios na cidade, o pagamento do Campeonato Baiano ficou suspenso. Caso a gente consiga alguma verba, será algo pontual, paleativos que não vão resolver o nosso problema. O mais prudente seria não disputar, mas iremos por conta das represálias”, lamentou Ederlane.

Antepenúltimo colocado do estadual com sete pontos, o Vitória da Conquista tinha cerca de 50 funcionários trabalhando no clube. Quase todos foram dispensados, com exceção de alguns da área administrativa e uma espécie de caseiro que cuida do Centro de Treinamento do Bode.

O Atlético de Alagoinhas vive situação parecida e seu presidente, Albino Leite, é enfático ao afirmar que não há a menor condição de voltar o futebol com portões fechados, pois o clube depende da receita de bilheteria para seguir operando.

Com custo de R$ 200 mil mensais, o clube aproveitou o auxílio pago pela CBF para equilibrar suas contas. O elenco profissional conta com 26 atletas.

“Precisaremos de aporte financeiro. Estou negociando redução de salários com meus atletas porque não tenho como manter. Há uma movimentação na Série D para que a gente consiga um suporte [da CBF] durante 6 meses”.

Albino Leite acredita que uma posição sobre o retorno do futebol só deve acontecer em setembro e defende inclusive uma mudança no formato da Série D, que estrearia um modelo reformulado neste ano de 2020.

Ele prega que a regionalização seja ainda mais intensa. O Carcará está no Grupo 6 com Patrocinense, Tupynambás e Caldense (trio de MG), Palmas (TO), Gama (DF), Bahia de Feira e o vencedor do confronto entre Tocantinópolis (TO) e Brasiliense (DF).

Ele sugeriu uma nova divisão tendo como objetivo uma redução no custo de transporte para a CBF e, além disso, evitar o trânsito em aeroportos. “Temos times de Aracaju e Alagoas. Poderíamos jogar contra essas equipes e fazer os deslocamentos de ônibus, com os clubes se responsabilizando pela higienização”, afirmou.

O dirigente também demonstrou uma preocupação com a logística de quando os clubes forem liberados para treinamentos. Há muitos atletas fora da cidade e do estado e isso demanda uma testagem antes desse deslocamento até Alagoinhas.

“Os testes rápidos são caros, precisaremos conveniar uma clínica ou fazer algo do tipo para fazer essa testagem antes deles voltarem. Não podemos correr o risco de trazer pessoas infectadas para dentro da cidade”, aponta Albino Leite.

Quanto ao elenco profissional, o time só conta hoje com cinco jogadores que ainda têm contrato e estão suspensos amparados na MP 936. Todos os outros vínculos expiraram dia 30 de abril e não foram renovados.

Momento diferente
Quem vive uma melhor situação financeira é o Bahia de Feira. O presidente do clube, Jodilton Souza, é o representante dos times da Série D junto à CBF e é proprietário da Unidade de Ensino Superior de Feira de Santana (Unef).

Presidente do Conselho Deliberativo, Thiago Souza afirmou que quase todo o elenco do Tremendão foi mantido. O meia Guilherme Escuro, o goleiro André Zuba e o lateral direito Válber saíram e o clube se planeja para anunciar as reposições.

“A perda esportiva foi inevitável para todos os clubes, mas o Bahia de Feira tem um planejamento anual e por isso não fomos muito prejudicados”, garantiu.

O clube monitora os atletas e passa orientações de exercícios para que eles mantenham a forma física de uma forma mínima até que os treinamentos sejam liberados.

*com supervisão do subeditor Miro Palma

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