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Não é só o futebol profissional que está sentindo a parada por causa da pandemia. Muitos campeonatos até já voltaram e os jogadores vão retomando o ritmo pouco a pouco.

A maior parte das categorias de base, no entanto, continua parada. E, mais até do que o atleta já profissionalizado, o iniciante necessita muito da preparação. Não só para manter e aprimorar a forma física e técnica. Mas para formar sua base.

As peneiras de clubes como Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo estão paradas. Bem ou mal, eram uma maneira de encontrar meninos para desenvolverem seus talentos em prol do futebol.

Agora, com a paralisação, um menino de 11 anos, por exemplo, está perdendo a chance de ingressar no sub-12. E quando for para o sub-13, poderá ter perdido uma fase importante em sua formação. E assim por diante. Há o risco de ficar um vácuo na seleção de jogadores, marcado pelo período sem atividades em campo.

Isso pode, inclusive, afetar o nível técnico do futebol brasileiro (claro que o fenômeno é mundial) no futuro, conforme afirma Raphael Aquino, professor de futebol do Colégio Palmares e especialista em categorias de base.

“Essa defasagem pode aparecer sim nas próximas gerações, principalmente na falta de jogadores inteligentes e habilidosos. Se até antes da pandemia havia certa escassez de jogadores talentosos, podemos ficar ainda mais carentes nesse sentido, com ainda mais jogadores taticamente polivalentes ou mais eficientes, mas menos jogadores que desequilibram pelo talento, justamente por causa desse vácuo na formação”, observa.

A evolução da ciência tem contribuído para, pelos menos nos profissionais, se compensar o tempo perdido, com tipos específicos de treinos. Para os mais jovens, que estão ainda em período de autoconhecimento, esses métodos ainda não se encaixam. A vivência, neste sentido, é o mais importante. E é justamente algo que eles estão perdendo na atual fase, conforme ressalta Aquino.

“Mesmo com recursos na preparação física, que poderiam compensar posteriormente, não tenho dúvida que a paralisação vai ser prejudicial, por se tratar de um esporte dinâmico, coletivo e que depende totalmente de ações voluntárias e involuntárias para tomadas de decisões. Teremos de encontrar um meio de compensar isso”, explica.