Fonte: Vitoriadaconquista.com.br
Foto: Eliezer Oliveira

A história de Pena e o futebol é feita de altos e baixos. Infância pobre, pouco estudo, dificuldades para treinar e superação. Este é o enredo da maioria dos atletas da bola, e com Pena não foi diferente. Da época de criança no bairro Kadija até o estrelato no Palmeiras e no Porto ele fez uma longa caminhada, onde “não bastou querer vencer”.

Pena despontou para o futebol no Serrano, em 1991. Clube do coração, que até hoje faz parte da vida do jogador. Ele e seus dois irmãos, que admite, “jogavam bem mais que ele”, venceram o Campeonato Baiano de juniores. Mas como não havia ajuda de custo e os garotos precisavam contribuir nas despesas de casa, Pena e seus irmãos começaram a trabalhar. Mas, em 1992, o Serrano decidiu pagar um salário para o jogador. Depois de ser campeão da 2ª divisão do Campeonato Baiano pelo Serrano, a carreira começou a caminhar. Pena atuou no Vitória da Conquista, Rio Branco e foi parar na Suiça.

Mas, do Rio Branco até à Suíça, Pena percorreu um caminho difícil. Nessa época, o jogador conta que conheceu as “falcatruas do futebol”. Antes de se transferir para o Grasshopers Zurich, Pena foi pretendido por um clube coreano. Mas, como o seu passe já havia sido vendido para o time paulista (segundo o atleta, sem que ele soubesse ou recebesse sua perte), Pena teve que esperar uma proposta que agradasse mais o Rio Branco. Foi quando, em 1998, o jogador teve sua primeira passagem pela Europa: “foi uma experiência maravilhosa, uma outra realidade, em um país rico”, conta o atleta.

O Zurich apresentou Pena à grande estrutura do futebol europeu. “Eles se preocupam com o jogador principalmente fora do campo. Lá tinha um pessoal brasileiro que cuidava de mim, me levava e buscava no treino, cuidava da minha alimentação, era uma família só para cuidar de mim”. Pena também conheceu o famoso frio suíço. No réveillon, quando foi acender o pavio dos fogos, o jogador tirou a luva para pegar no fósforo e acabou adormecendo a mão. “Eu fiquei ali com o fósforo aceso e não conseguia levar a mão até o pavio. Depois de muito tentar eu consegui, mas quase acertei um amigo meu com o foguete”.

Após seis meses enfrentando o frio da Suiça, Pena volta para o Brasil. O Rio Branco, dono do seu passe, acabou emprestando Pena para outros clubes. Até que, depois de ser campeão cearense pelo Ceará, Pena teve seu passe comprado por uma grande empresa de laticínios. Finalmente a carreira de Pena tinha dado a guinada que há muito tempo ele esperava.


Foto: Abril Esportes

No Palmeiras, o atacante viveu seu melhor momento jogando no Brasil. Foi campeão da Copa dos Campeões, da Taça Rio-São Paulo e vice da Libertadores em 1999. Daí, os clubes europeus “cresceram o olho” sobre o artilheiro do Palmeiras. Pena foi disputado pelo Espanyol de Barcelona e o Porto, e acabou aceitando o desafio de substituir o ídolo Jardel no futebol português. Nos dragões, como é conhecido, o time português ganhou todos os campeonatos locais, disputou duas Taças UEFA e realizou o sonho de jogar o mais importante campeonato europeu, a Champions League. Foi o segundo maior artilheiro do continente na temporada 2001/2002, apenas atrás de Shevchenco.

De repente, de ídolo o atacante virou vilão. Na temporada 2002/2003, Pena não rendeu tanto quanto no ano anterior devido a uma pubalgia (inflamação na região do púbis). E “como em todo time grande: ou você é deus ou é o diabo. Se o Porto ia bem: ‘Pena foi o melhor’, e quando jogava mal: ‘Pena não jogou nada’. Eu sempre tive a dificuldade de carregar a cruz pelo time. Só não me aconteceu isso no Palmeiras”. Segundo Pena, no Porto os jogadores eram proibidos de falar o que acontecia nos vestiários, e por conta disso o seu baixo rendimento foi justificado com mentiras. “Só passava do vestiário o que eles quisessem. Foi quando eu abri a boca, xinguei muita gente. O pessoal me chamava de louco. Mas eu provei que não tinha condição de jogar”.

Por causa da pubalgia, Pena também deixou de realizar seu grande sonho de jogar pela seleção. “O Felipão me disse: ‘Pena, eu quero você. E aí, como vai ser? ’. Eu pedi um tempo maior para me recuperar, mas ele não podia me dar mais que 15 dias. A pressão para que ele levasse o Romário era muito grande. E por conta dessa pubalgia eu não pude ir a uma Copa”. Depois desse episódio, Pena foi emprestado para vários times europeus. Até que “chutou o balde” e voltou para o Brasil, em 2005.

Em 2006, o atacante foi campeão carioca pelo Botafogo. Passou pelo Paulista, Confiança – SE (2007), voltou para o Serrano (2008), jogou no Madre de Deus (2009) e, definitivamente aportou no seu amado Serrano, em 2010. “O Serrano tem grandes investidores, que estão entrando com vontade nesse projeto. E o Vitória da Conquista conseguiu nesses anos se organizar muito bem. Eu acredito que, com o ótimo celeiro de jogadores que a cidade tem, o futebol conquistense tem tudo para se tornar a terceira potência na Bahia. Atrás apenas do Bahia e Vitória”.

Depois de novamente ter ajudado o Serrano a subir para a primeira divisão do Campeonato Baiano, Pena não renovou seu contrato com o Rubro-verde. “Não cheguei a um acordo com a diretoria sobre jogar a Taça do Governador. Tive proposta do Vitória da Conquista e até de times de fora do estado. Mas, como (esta última) não foi tão boa para me tirar de Conquista e, em consideração ao Serrano e principalmente ao Professor Elias Borges (atual técnico do Serrano e que o revelou), não aceitei a proposta do Vitória da Conquista”. Atualmente Pena divide seu tempo entre os negócios que conseguiu com o futebol e o projeto da sua escolinha, que pretende inaugurar no ano que vem. “No mais, meu futuro pertence a Deus. Me sinto um homem realizado e feliz. Só tenho a agradecer e pedir apenas mais saúde.”