Palco de vaias e invencibilidade, Fonte Nova reencontra Seleção após 14 anos
Globo Esportes

A Fonte Nova e a Seleção Brasileira têm uma relação com sentimentos dúbios. A história entre os dois não é longa, mas digna de um livro, curto e marcante. O êxtase fica por conta da invencibilidade nos 11 jogos realizados no principal estádio da Bahia. A consternação pelas cenas vividas durante a Copa América de 1989. Gols e festa da torcida na arquibancada de um lado. Protestos, hino vaiado e bandeiras queimadas do outro.
O passado voltará à tona neste sábado. O Brasil volta à Fonte Nova para o último jogo da primeira fase da Copa das Confederações. O adversário será a Itália. Mas até a bola rolar, a segunda parte da história é a memória mais recente do estádio com a camisa verde-amarela em um jogo oficial. Salvador havia sido escolhida para ser a sede do Brasil na Copa América de 1989. Seria. Não foi, porque ficou comprovado que é verdade quando se diz que a grande paixão do torcedor baiano não é o futebol, mas seu time de coração.
Tudo aconteceu por causa de um jogo de interesses. Jogo que mexeu com o sentimento do torcedor e teve resultados trágicos.
O Bahia era o campeão brasileiro da época. O título conquistado em cima do Internacional fez com que alguns jogadores do Tricolor, entre eles Charles e Bobô, fossem cobrados na Seleção. O pedido foi atendido e, coincidência ou não, a venda dos ingressos para a competição, que era baixa, cresceu.
Charles estreou na Seleção com o pé direito. Marcou duas vezes na goleada de 4 a 1 sobre o Peru, em Fortaleza. Mas, no voo para Salvador, onde seriam disputados os jogos da primeira fase da Copa América, o atacante foi cortado pelo técnico Sebastião Lazaroni. A revolta estava instalada.
Nos dois primeiros jogos da competição, apesar das vaias, vitória sobre a Venezuela e empate com o Peru. Na penúltima partida, o ápice da chamada Revolta Popular da Fonte Nova. Hino Nacional vaiado e bandeira queimada na arquibancada. Centro da polêmica, o jogador não gosta muito de falar sobre o assunto.
– Foi um momento muito marcante na minha carreira. É claro que foi um momento chato. Não é bom para ninguém ver seu país sendo vaiado, ver bandeiras sendo queimadas, incomodou bastante. Para mim, foi um momento de satisfação por ver o carinho que o torcedor baiano tinha por mim. Por outro lado, não é bom ter a imagem vinculada a um episódio como aquele – lamenta Charles, que encantou até Diego Maradona.
As cenas vistas na Fonte Nova deixaram dirigentes e jogadores inconformados. O atacante Bebeto chegou a afirmar que tinha vergonha de ser baiano. Renato Gaúcho chamou a Bahia de “terra de índio”. Como resposta, recebeu um ovo na cabeça na saída do vestiário. O imbróglio fez com que o último jogo da primeira fase da competição fosse transferido para Recife.
Apesar do ocorrido em 1989, o retrospecto da Seleção Brasileira na Fonte Nova é favorável. A equipe disputou 11 jogos no estádio – no total foram 18 na Bahia – e não perdeu nenhum (veja no quadro ao lado). A primeira partida do time canarinho na Fonte aconteceu no dia 6 de julho de 1969. Na ocasião, o Brasil goleou o Bahia por 4 a 0.
O primeiro duelo internacional foi em 1981. A vítima, a Espanha: 1 a 0 para o Brasil em jogo amistoso. Por outro lado, o estádio traz uma lembrança amarga também. Sob o comando de Carlos Alberto Parreira, a seleção perdeu a Copa América de 1983, ao empatar por 1 a 1 com o Uruguai.
A revolta de 89 marcou o último jogo oficial no estádio. Porém, dez anos depois, a Seleção esteve na Fonte Nova para um amistoso com a Holanda, que terminou empatado em 2 a 2. Em 2009, o Brasil esteve de volta à capital baiana, mas o jogo contra o Chile, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo, foi disputado no estádio de Pituaçu.










