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Suarez-Neymar-e-Messi

O Barcelona é favoritíssimo contra o River Plate, neste domingo, na decisão do Mundial de Clubes da Fifa.

O time catalão conta com dois dos três melhores jogadores do mundo (Messi e Neymar), um outro atacante que está entre os maiores do planeta (Suárez) e titulares das seleções espanhola, croata, argentina, chilena e belga.

Já os argentinos têm de se contentar alguns bons garotos formados em suas categorias de base somado a veteranos em fim de carreira e outros jogadores pinçados dentro do próprio mercado nacional.

Há 20 anos, é essa a lógica da final do Mundial. De um lado, uma multimilionária equipe com pinta de seleção global. Do outro, um time mais modesto, que só consegue ser potência local.

O abismo que separa os europeus e o sul-americanos (ou qualquer outro time do mundo) começou a ser cavado em dezembro de 1995, quando o então jogador belga Jean-Marc Bosman conseguiu se desvincular na Justiça do RFC Liège para se transferir para o clube que bem quisesse.

A decisão judicial decretou o fim do passe na Europa e teve efeito cascata sobre os outros cantos do mundo.

Desde então, jogadores só possuem vínculo com os clubes enquanto durarem seus contratos. Eles (e seus empresários) viraram donos do seu destino: podem ir jogar onde bem quiserem.

A medida favoreceu os clubes mais ricos, capazes de pagar maiores salários. Favoreceu a concentração de grandes jogadores em poucos times e a montagem de grandes esquadrões como o Barcelona atual.

Somada à Lei Bosman, vieram na sequência o passaporte europeu, que permite que cidadãos de qualquer país da União Europeia possam trabalhar livremente em outra nação do grupo, e a diminuição ou aniquilação na restrição de estrangeiros (não-comunitários) que cada clube europeu pode escalar.

O resultado de todas essas medidas foi avassalador na distribuição de forças do futebol no planeta. E o Mundial de Clubes mostra bem o tamanho da inversão de forças.

Entre 1960, quando foi disputada a primeira edição do torneio, e 1995, a última edição sem influência da Lei Bosman, os sul-americanos conquistaram 20 títulos mundiais, contra 14 europeus.

Mas a partir de 1996, tudo mudou. Das últimas 20 competições com status de Mundial (Intercontinental ou da Fifa), 14 foram conquistadas por equipes do Velho Continente e apenas seis por times da América.

Uma rápida olhada nos times europeus escalados nas finais de 1996 e 2014 mostra a influência da Lei Bosman e da queda das barreiras para estrangeiros.

Dezenove anos atrás, o Ajax venceu nos pênaltis o Grêmio com uma equipe que tinha nove jogadores holandeses, um finlandês (Jari Litmanen) e um nigeriano (George Finidi).

Já em 2014, o Real Madrid aplicou 2 a 0 no argentino San Lorenzo utilizando um time com atletas de sete nacionalidades diferentes. Além de quatro espanhóis, a equipe tinha brasileiro, alemão, colombiano, galês, francês e português.

Com o Barcelona de 2015, não é diferente. E é por isso que o favoritismo catalão na final do Mundial de Clubes começou a ser construído 20 anos atrás, com uma decisão judicial.