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A Confederação Brasileira de Futebol pode ter a melhor das intenções com o futebol feminino, mas como diz o velho ditado “o inferno está cheio de boas intenções”, e hoje o inferno reflete diretamente na vida de centenas de atletas do futebol feminino que também estão sofrendo com a pandemia da Covid-19. Não basta dar o peixe, tem que ensinar a pescar e acompanhar o que será feito com o pescado. A autonomia que a CBF se orgulha de praticar com os clubes é extremamente nociva ao futebol feminino, afinal, no futebol brasileiro o problema não é só financeiro, é de gestão (como está bem claro com a situação de dezenas de clubes).

Acontece que a CBF teve uma preocupação especial com o futebol feminino ao destinar R$ 120 mil para os 16 clubes de série A do Campeonato Brasileiro e R$ 50 mil para os 36 clubes da série B. O que alguns dirigentes fizeram? Não repassaram a verba para as atletas e muitas jogadoras ficaram sem salários integrais, ajudas de custos, salários cortados, etc, como mostra o excelente levantamento feito pela repórter Camila Carelli nas Rádios CBN/Globo, com entrevistas exclusivas e denúncias por partes de atletas que optaram em não se identificar para contar os absurdos de alguns dirigentes espalhados pelo Brasil.

Muitas pessoas que não acompanham o futebol feminino imediatamente respondem “mas os clubes não tem dinheiro nem para o masculino, imagina com o feminino” essa frase além de mostrar um grande egoísmo e falta de entendimento, também demonstra como algumas pessoas também não perceberam que o futebol feminino tem dinheiro neste momento da CBF e o que não tem é gestor interessado em fazer dar certo, tal qual já fazem com o masculino.

Por isso é fundamental que a CBF não se esconda na tal autonomia que dá aos clubes através das federações. É preciso que a entidade máxima do futebol brasileiro repense de forma urgente e organize uma comissão própria que acompanhe o destino e o desenvolvimento do futebol feminino. É necessário que tenha um conselho técnico, ético e financeiro para a modalidade, um departamento formado por profissionais do ramo, que trabalhem de fato ligados aos clubes e federações, com o desenvolvimento de um protocolo que ataque categorias de base, times principais e que tenha acompanhamento e cobrança.

Sim, a CBF precisa ter uma série de bedéis em cima do futebol feminino e que gostem da modalidade ou irá incorporar os mesmos problemas, deficiências e péssimas gestões do futebol masculino. A CBF tem a possibilidade de escrever uma nova história sobre o esporte e não pode se esconder atrás de uma autonomia que pode gerar por parte dos clubes mais um boicote ao futebol feminino.

Um ótimo exemplo de gestão de federações está em São Paulo com Aline Pellegrino que tem promovido uma relação direta com os clubes paulistas para entender a demanda de cada um, assim encontrar recursos que não deixem as jogadoras sem assistência e também os clubes que precisam se adaptar a essa nova realidade.

O futebol feminino brasileiro não é apenas a seleção brasileira, não são apenas vídeos da técnica Pia Sundhage tocando violão e nem foto de dirigente ao lados das jogadoras em datas fifa. Com investimentos (que estão acontecendo), mas mais profissionalismo pensando no macro e com isso o futebol feminino brasileiro terá condições de ter uma liga fortalecida ano a ano, jogadoras em pleno desenvolvimento técnico, novas jogadoras surgindo e consequentemente uma seleção mais forte, já que as seleções são carros chefes da CBF. É preciso mais!