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Por conta da pandemia do coronavírus, que paralisou as atividades do futebol por mais de três meses no país, o Campeonato Brasileiro de 2020 acontecerá até o dia 24 de fevereiro de 2021. É a primeira vez na era dos pontos corridos que a principal competição nacional ultrapassa as festas de fim de ano e invade a folia de Carnaval.

Desde a Taça Brasil de 1959, primeiro torneio nacional do futebol brasileiro, em seis oportunidades o campeonato começou em um ano e terminou em outro. Curiosamente, em todas elas, não levava o nome ‘Campeonato Brasileiro’. Em 1973, 1977, 1986, 1987, 1988 e 2000, a disputa foi até o ano posterior.

A mudança do calendário traz uma série de outras alterações que deixam as equipes participantes do Brasileirão em alerta. Em meio à pandemia, com preocupações que vão além do lado esportivo, e jogos marcados para dezembro e janeiro, período habitual de férias, como fica o lado psicológico dos jogadores?

O ge conversou com Paulo Ribeiro, que há 34 anos trabalha como psicólogo esportivo no futebol brasileiro. Atualmente no Botafogo, ele afirma que tem o trabalho de preparar o jogador para “situações inusitadas”.

– O importante é que a gente tente deixar claro para os atletas que, por ser um ano atípico, tudo que acontecer durante a temporada serão situações inusitadas e diferentes. Eu tenho contato com eles todos os dias. Eu quero saber pelo que eles estão passando, se estão conseguindo se adaptar. A parte cognitiva de um atleta é tão importante quanto a parte física. As duas juntas vão trazer desempenho.

– A preocupação do atleta vai além de treinar e de fazer um bom jogo. Ele está viajando em condições adversas, pegando avião, indo para estados diferentes, com pessoas diferentes, não sabe se estão contaminadas. A carga fica muito maior para ele poder dar conta de tantas situações. Com isso, a atenção do atleta fica drenada – ressalta o psicólogo.

No calendário atual, as rodadas 27 e 28 estão marcadas para os fins de semana dos dias 27/12/2020 e 02/01/2021, por exemplo. No início deste mês de agosto, A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e a Fenapaf (Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol) fizeram um acordo para diminuir o tempo entre um jogo e outro do mesmo time para 48 horas, durante a temporada 2020. O prazo mínimo era de 66h.

Isso aconteceu por conta de uma movimentação que busca aproximar algumas rodadas e alterar o calendário atual, possibilitando assim um recesso no fim do ano. Com certa indefinição e a possibilidade de disputarem partidas decisivas num período que costumam ter férias, como manter o foco dos jogadores? Paulo Ribeiro lembra do recesso antecipado que os clubes deram aos atletas no início da pandemia e reafirma a importância da capacidade de os jogadores se adaptarem às mudanças.

Outro fator que pode ser preponderante na disputa do Brasileirão deste ano é uma janela de transferências do futebol europeu a mais. É recorrente vermos times sendo desfalcados no início do campeonato, em agosto, com jogadores partindo para o velho continente. Entretanto, nesta edição, as perdas poderão acontecer também na reta final, em janeiro, quando volta a abrir a fase de transferências internacionais.

A janela que fechará entre setembro e outubro (dependendo do país) é a mais forte do futebol europeu. O período de transferências de janeiro não é tão movimentado, mas contratações pontuais são feitas. É comum os times europeus olharem para o Brasil. Em janeiro de 2020, por exemplo, jogadores importantes foram negociados, como Bruno Guimarães, do Athletico-PR, Matheus Fernandes, do Palmeiras, e a dupla Pablo Marí e Reinier, do Flamengo. O vice-presidente de futebol do atual campeão, Marcos Braz, não teme possíveis desfalques.

É um ano atípico em qualquer área e no futebol não é diferente. Os clubes e os jogadores terão de se adaptar. Jogadores testando positivo nas primeiras rodadas do Brasileirão trazem preocupações sobre o futuro do esporte em 2020. Ainda no meio de incertezas, o futebol brasileiro segue em busca de seu novo normal.