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O futebol brasileiro vivenciou um festival de transferências de jogos para tentar fugir às restrições impostas por autoridades pela pandemia de novo coronavírus. Jogo do Paulista no Estado do Rio, partidas remarcadas e canceladas, e até um time que viajou três Estados para voltar para casa em meio a um surto de covid. Esse movimento foi liderado pela CBF em meio ao momento mais grave da pandemia com entre 2 mil e 3 mil mortes por dia.

O desespero para jogar “de-qualquer-jeito-como-onde-der” foi simbolizado pela reunião entre clubes e a CBF. No encontro, cujo vídeo foi vazado, o presidente da confederação, Rogério Caboclo, deixava clara sua pouca disposição para sequer discutir qualquer opinião que defendesse a paralisação do futebol. Foi ríspido com quem ensaiou discordar.

Sem debate, o futebol parou total ou parcialmente apenas nos locais onde as autoridades foram mais duras, como São Paulo. Os cartolas ignoram o quadro geral sanitário do país: a maioria dos Estados continua com filas em UTIs e infecção em alta. Como argumento, apresentam protocolos que se revelaram falhos fora do ambiente do futebol e a necessidade de jogar para pagar salários.

A tese de que “o futebol não pode parar ou jogadores e clubes ficarão em dificuldade” é similar à posição defendida pelo presidente da República, Jair Bolsonaro. Outra similaridade entre a CBF e o governo federal é a resistência em botar a mão no bolso para ajudar os necessitados para que esses possam deixar de trabalhar para se preservar em meio a uma crise de saúde.

Em meio à pandemia do ano passado, após Fifa e Conmebol darem contribuições, a CBF lançou uma linha de crédito para clubes no valor de R$ 100 milhões. Eram empréstimos para serem pagos sem juros. Aos times de séries inferiores, com a C e D, a confederação injetou recursos no caixa. Fez o certo, mas foi tímido.

Está descrito no estatuto da CBF como uma de suas funções: “administrar, fomentar, difundir, incentivar, aperfeiçoar e fiscalizar a prática formal de futebol não profissional e profissional, em todo o território nacional”. Não haveria nada mais efetivo para fomentar o futebol brasileiro em meio a uma pandemia do que manter seus jogadores saudáveis e com as barrigas cheias. Certamente seria mais útil do que reuniões on-line para dizer que os clubes “estão fudidos” se o futebol parar.