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No último domingo, 25, ficou marcada a imagem da comemoração do zagueiro francês Aymeric Laporte, que deu ao Manchester City a vitória sobre o Tottenham, na final da Copa da Liga Inglesa, em Wembley. Enquanto abraçado por companheiros, era possível ver nitidamente milhares de torcedores do City comemorando ao fundo. O estádio recebeu quase 8.000 torcedores, em mais um teste do governo britânico e das autoridades locais para avaliar o retorno do público em meio a pandemia da Covid-19.

Do total de pessoas que acompanharam o jogo na capital inglesa, 4.000 ingressos foram destinados a profissionais de saúde e moradores da região. A outra metade foi dividida entre torcedores de City e Tottenham. Todos os presentes precisaram apresentar testagem negativa para a doença. O modelo, agora, pode ser seguido para a decisão da Copa da Inglaterra, em 15 de maio, com mais de 21.000 torcedores presentes no mesmo estádio.

A realidade de ver a torcida de volta aos campos, ginásios e nos principais eventos esportivos está bem longe de acontecer no Brasil, mas já não é novidade mundo afora. No último mês, 51.723 pessoas estiveram no estádio Melbourne Cricket Ground, para acompanhar a um jogo de futebol australiano entre Carlton Blues e Collingwood Magpies, duas tradicionais equipes do país. No estádio, não havia obrigatoriedade do uso de máscaras. O país registrou apenas uma morte pela doença nos últimos quatro meses.

“No Brasil e em países como Índia e México, onde a pandemia está totalmente descontrolada, não há a menor possibilidade de cogitar algo com público se não quisermos promovermos um desastre. Em um outro extremo, estão países como Austrália, Nova Zelândia, Vietnã, que tem um controle absurdo da pandemia. Israel, por exemplo, casou lockdown com vacinação efetiva, hoje faz até shows de rock”, explica à PLACAR o neurocientista Miguel Nicolelis.

“Há uma cultura comunitária ali. A Nova Zelândia e a Austrália têm um senso de defesa comunitária, são sociedades que tem no seu DNA um espírito de proteção, estão em outro contexto. Quando Auckland, a maior cidade da Nova Zelândia, teve um caso, a primeira ministra [Jacinda Ardern] mandou fechar tudo por uma semana”, completou.

Na Nova Zelândia, as atividades estão quase todas liberadas. O país com 5 milhões de habitantes registrou 26 mortes e pouco mais de 2.601 casos desde o início da pandemia, de acordo com números da Universidade John Hopkins. A única medida obrigatória é o uso de máscaras em alguns espaços e o fechamento de fronteiras. Em junho, já havia partidas de rúgbi com mais de 42.000 pessoas no estádio.

Em janeiro, o Auckland City, principal equipe do país, surpreendeu ao anunciar que não participaria da última edição do Mundial de Clubes, entre 1º e 11 de fevereiro, no Catar, vencida pelo Bayern de Munique. O clube alegou que seguiria no compromisso de cumprir com a quarentena obrigatória estabelecida peles autoridades, o que impedia a participação no torneio no período.

“No meio do caminho [desse retorno de torcida] tem a zona cinza, onde entra a Inglaterra. Considero muito prematura a volta de torcida aos estádios. Acabaram de sair de um lockdown de três meses e ainda tem um fator complicador, o fato de não ter fechado o espaço aéreo com a Índia. Eles receberam a variante da doença indiana, a sul-africana, a brasileira, considero extremamente prematura essa volta. Não pode haver deslumbre, apesar de terem vacinado uma boa parte da população”, explicou Nicolelis.

Desde o início da pandemia, o Reino Unido registrou 127.687 mortes, sendo superado apenas pela Índia (195.123), México (214.947), Brasil (390.797) e Estados Unidos (572.605). A Inglaterra reabriu o comércio e serviços não essenciais apenas no último dia 12, depois de quatro meses de lockdown. O futebol e outras atividades esportivas não pararam.

“Tivemos um claro exemplo no Brasil de como não estamos preparados. A tal da bolha de Saquarena, do vôlei, trouxe prejuízos enormes, com graves casos como do técnico Renan dal Zotto e do vice-presidente Radamés Lattari. Eu, desde o início, achava que nem deveríamos estar jogando futebol ainda. Times de todas as divisões já sofreram com surtos, jogadores e dirigentes que mal se recuperaram. Cogitar trazer publico seria uma tragédia, seriam eventos que desencadeariam uma terceira onda no país”, argumentou Nicolelis.

Até aqui, o principal teste em solo brasileiro durante a pandemia ocorreu na final da Copa Libertadores da América entre Santos e Palmeiras, no último dia 30 de janeiro, no Maracanã. Na ocasião, foram autorizadas 7.800 pessoas, 10% da capacidade do estádio, o que culminou com diversas aglomerações.

No Super Bowl, principal evento de futebol americano, a decisão entre Tampa Bay Buccaneers e Kansas City Chiefs teve 25.000 presentes, em 7 de fevereiro. Desses, 7.500 foram profissionais de saúde já vacinados. Nesta semana, as 500 Milhas de Indianápolis acontecerão com 40% de sua capacidade, com 135 mil espectadores, o que fará da prova o maior evento desde o surgimento da pandemia, sem a exigência de certificado da vacinação.

Nos últimos dados disponibilizados, nesta segunda, dia 26, o Ministério da Saúde registrou 28.636 novos casos e 1.139 novas mortes nas últimas 24 horas. No total, são 14.369.423 casos e 391.936 óbitos confirmados em todo o território nacional.