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Qual é a função social do esporte? Transformar as vidas das pessoas pelo que é certo ou ser espelho dos poderosos mais abjetos? Aparentemente, no Brasil, a resposta não tem sido simples. Clubes e entidades esportivas se dividem entre a sensatez e a bestialidade de políticos populistas que insistem em clamar pelo desprezo à vida.

Eis que, para glorificar o segundo caso, o Rio de Janeiro resolveu ir na contramão do mundo para liberar público nos estádios de futebol em meio à maior pandemia dos últimos 100 anos. A decisão foi tomada no mesmo fim de semana em que o país registrou o novo recorde de mortes no planeta em um período de 24 horas. Mais de 57 mil brasileiros perderam a vida para o Covid-19 até o momento. Desse número, quase 10 mil foram no estado do Rio de Janeiro.

A prefeitura da cidade ignora o poder de transmissão da doença em aglomerações, algo que ficou simbolizado na Itália, na partida entre Atalanta e Valencia, pela Champions League, no início da pandemia. O norte italiano foi uma das regiões mais atingidas pelo Covid-19, e o próprio prefeito de Bérgamo admitiu que a partida foi uma “bomba biológica”.

Mas os interesses políticos, com objetivo de criação de laços com as lideranças mais infames do país, parecem sobrepor o bom senso e o mínimo da razão. Mesmo que isso signifique pisar sobre os corpos dos governados.

Restaria aos clubes e às entidades esportivas gerar uma barreira frente à insanidade dos políticos. Mas alguns deles abraçam também as mesmas figuras do Planalto Central e já demonstraram interesses em comum. São entidades que viram normalidade em uma partida de futebol ao lado de um hospital de campanha, que duela no número de gols e mortes no Maracanã.

Se for para se prestar a isso, o esporte nem precisa existir. Ainda bem que, no mesmo fim de semana, outros clubes e entidades mostraram, no Dia do Orgulho LGBTQI+, que o segmento também existe para quebrar barreiras do preconceito. Do apoio em mensagem no Twitter à fantástica ação do Coritiba, o futebol sabe se levantar pelo que é certo mesmo no ambiente mais nocivo e preconceituoso. Foi um sopro de esperança após a apreensão provocada por inescrupulosos que usam o esporte para as suas ambições mais perniciosas.